Quando neste blogue faço algumas reflexões sobre a natureza eufemista do vocábulo “anti-sionismo”, como disfarce politicamente correcto do velho ódio aos judeus, regra geral sou alvejado com ataques ad hominem (que, como é evidente, me fazem sorrir porque são a melhor demonstração que perturbei intelectualmente os seus autores) e as recorrentes bojardas da propaganda que, de tanto repetidas, ganham vida própria e se tornam “verdade”, como Goebbels ensinou.
Quem é intelectualmente honesto encolhe os ombros ou, se tiver tempo, vê-se muitas vezes obrigado a aceitar a inversão do ónus da prova, partindo para a desconstrução das “verdades” propaganda.
Uma delas é a sempre repetida questão dos refugiados palestinianos.
A mentira aqui cavalga com o freio nos dentes, ao sabor de slogans e estribilhos em que o diabo é judeu e o anjo é árabe, ou, em versão infantil-marxista, o judeu é “opressor” e o árabe “oprimido”
Os factos, esses, são algo mais complexos:
1-Os refugiados árabes, cerca de 725 000 pessoas, fugiram à frente da guerra desencadeada em 1948 pelos Estados Árabes vizinhos. Sem invasão árabe não só não haveria refugiados, como existiria desde 1948 um estado palestiniano na Margem Ocidental e em Gaza.
2- Após a vitória, Israel legislou (Haq el-Auda) no sentido de permitir o regresso dos árabes, desde que assinassem uma declaração de renúncia à violência e de assumpção da cidadania israelita. 150 000 árabes fizeram-no, juntando-se aos 170 000 que tinham ficado e que hoje são cerca de 1,4 milhões de cidadãos israelitas, com deputados, governantes, juízes no Supremo Tribunal, professores, militares,etc.
Como é que isto se passou?
No Outono de 1947, antes sequer do Plano de Partilha, ao árabes já haviam decidido ir para a guerra, pelo que os ricos (effendi), cerca de 70 000, fecharam as suas casas e retiram-se para Damasco e Beirute, tencionando regressar logo que os judeus fossem lançados ao mar, desfecho de que não duvidavam, dada a desproporção de forças.
Atrás dos effendi foram cerca de 100 000 árabes pobres, (felas) assustados com o que lhes diziam que aí vinha. Foram instalados em campos de refugiados.
“ A evacuação em massa instigada pelo medo e em parte por ordens dos lideres árabes, ….”
(Time Magazine, 3 de Maio de 1948)
“ O factor mais importante na fuga dos palestinianos foi o anuncio do Executivo Árabe Palestiniano instando todos os árabes de Haifa a partirem…Estava claramente implícito que os árabes que ficassem seriam considerados renegados”
(The Economist, 2 de Outubro de 1948)
Ou seja, esta primeira vaga partiu na antevisão de uma guerra. Na altura não havia guerra, não havia Israel e quem mandava era o Exército Britânico.
Em Dezembro de 1947, logo após o Plano de Partilha (29 de Novembro) começou a guerra e nesta fase a Haganah, à semelhança dos paramilitares árabes, utilizou de facto tácticas intimidatórias para obrigar à fuga de populações árabes hostis nas proximidades de alguns kibbutz, Jaffa e partes de Jerusalém.
Uma dessas tácticas foi o rumor de que um enorme exército judaico do Ocidente estava em vias de desembarcar na costa
Ao mesmo tempo, os líderes árabes exortavam os árabes a abandonar as suas áreas para que os exércitos árabes tivessem caminho livre, garantindo que, assim que a guerra acabasse, poderiam regressar e ocupar as propriedades dos judeus.
“ O Secretário-geral da Liga Árabe, Azzam Pasha, garantiu aos árabes que a ocupação seria um passeio militar…Foi dados aos árabes da Palestina o conselho fraterno de deixarem as suas terras, casas e propriedades, para que não fossem trucidados pelos exércitos árabes”
(Al Hoda, NewYork, 8JUn1951)
“Os árabes conduzirão as suas mulheres e crianças para locais seguros até a luta ter terminado”
(Nuri Said, 1º Ministro iraquiano)
“ O êxodo deveu-se em parte à convicção dos arabes de que seria apenas uma questão de semanas até que os judeus fossem derrotados “
(Edward Atiyah, Secretario da Liga Árabe, in “Os Árabes”, 1955)
Foram postos a circular na imprensa árabe notícias de massacres, cometidos pelos judeus, violações em massa, matanças de fetos e judeus sanguinários a beberem o sangue das crianças.
Arafat, na sua biografia autorizada da autoria de Alan Hart, confessada que as notícias sobre os “massacres”, espalhadas pelos egípcios, funcionaram “como uma bandeira vermelha agitada em frente de um toiro”.
Centenas de milhares de árabes partiram em pânico para os campos de refugiados, mesmo de cidades protegidas e controladas pelo exército britânico.
Em Março de 1948, os britânicos retiraram e 8 exércitos árabes, passaram ao ataque. Face à derrota árabe, mais árabes fugiram.
Em Fevereiro de 1949, em Rodes, Israel prontificou-se a devolver as terras da Partilha que tinha ocupado na batalha, se os árabes assinassem um tratado de paz. Os refugiados regressariam e o problema terminaria aí.
Os árabes rejeitaram a proposta porque isso equivaleria a reconhecer Israel.
Em Lausana, em Setembro de 1949, Israel ofereceu-se para receber 100 000 refugiados, mesmo sem tratado de paz. Os árabes recusaram pela mesma razão.
Os refugiados eram agora apenas uma arma de arremesso e os porta-vozes egípcios diziam-no claramente:
“ Manteremos os refugiados nos seus campos até a bandeira palestiniana flutuar em toda a região. Só regressarão a casa como vencedores, sobre as sepulturas e os corpos dos judeus”.
É pois evidente que o problema dos refugiados foi criado sobretudo pelos estados árabes que desafiaram a ONU, invadiram Israel, encorajaram os árabes a fugir e os mantiveram deliberadamente num estado de miséria para fins propagandísticos, usando-os como alavanca moral na batalha pelos corações e pelas mentes, tendo em vista a perpetuação do estado de guerra contra Israel.
O diminuto papel de Israel restringiu-se a contextos militares específicos e a actos isolados que infelizmente acontecem em todas as guerras.
Até 1967, tanto a faixa de Gaza como a Margem Ocidental estiveram sob ocupação egípcia e jordana, sem que esses países permitissem a criação do estado palestiniano, mantendo os refugiados encerrados nos campos.
Em 1967, na sequência de uma nova guerra desencadeada contra Israel, este país assumiu a autoridade nesses territórios tendo o nível de vida dos árabes aí residentes triplicado até 1992. Foram também acolhidos milhares de refugiados vindos da Jordânia, ao abrigo da política de “pontes abertas” ao longo do Rio Jordão, tendo sido criados na Margem Ocidental mais de 250 novos colonatos árabes, cuja população subiu de 650 000 em 1967, para 2 milhões em 1994.
Em 1993, os territórios foram transferidos para a AP e o nível de vida degradou-se, sendo hoje o seu PIB quase 15 vezes mais baixo do que era.
Hoje em dia, quando aos palestinianos exigem o “direito de regresso”, não se referem aos sobreviventes dos 725 000, mas aos seus descendentes, ou seja, cerca de 5 milhões de pessoas, exigência descabida e inaceitável para Israel, porque nenhuma lei internacional a sustenta. Mesmo que venha a ser estabelecida a paz entre Israel e quem representa os palestinianos, o estatuto legal de refugiados só se poderá aplicar aos que restam dos 725 000.
A História ajuda-nos todavia a relativizar este problema:
-Entre 1949 e 1954, como vingança pela derrota de 1948, 800 000 judeus foram expulsos do Iraque, Marrocos, Tunísia, Jordânia, Irão, etc, tendo sido despojados de tudo o que tinham. Muitos deles foram para Israel e integraram-se na sociedade, sem o apoio da ONU, sem choradinhos vitimizadores e sem exigência de "direito de regresso"
Não constam sequer no horizonte mental dos “apoiantes da causa palestiniana”.
-Em1922, a guerra greco-turca provocou o deslocamento de 1,8 milhões de pessoas. Não há campos de refugiados.
-Após a 2ª Grande Guerra, mais de 3 milhões de alemães foram expulsos de países eslavos. Não há campos de refugiados na Alemanha.
-Na sequência da descolonização exemplar, centenas de milhares de portugueses foram expulsos dos territórios africanos. Não há campos de refugiados em Portugal.
Ou seja, todos os casos foram resolvidos excepto o dos 725 00 árabes que deixaram Israel em 1948 e que foram mantidos em campos de refugiados de propósito, com o objectivo de manter vivo o conflito e avivar o poster da vitimização.
“Os estados árabes conseguiram disseminar o povo palestiniano e destruir a sua unidade”
(Abu Mazen, actual Presidente da AP, Falastin el-Thawra, Beirute, Março de 1976)
“Desde 1948 os líderes árabes usaram, o povo palestiniano parar fins políticos”
(Rei Hussein, da Jordânia, 1996)
“Abu Mazen acusa os estados árabes de serem a causa do problema dos refugiados palestinianos….o antigo director da UNRWA… Ralph Galloway, declarou em 1958 que os estados árabes não querem resolver o problema dos refugiados. Querem mantê-lo como ferida aberta”
(Wall Street Journal, 5Jun2003)
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