Por décadas, a comunidade judaica, com dificuldades, tolerou uma pequena e feroz seita anti-sionista, cujos membros viajavam pelo mundo, denunciando a existência de Israel e abraçando seus inimigos.
Porém, quando a delegação do Neturei Karta fez afagos no presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad na conferência que questionou o Holocausto em dezembro, isso foi demais.
Agora, o grupo ultra-ortodoxo está sendo proscrito em três continentes, são denunciados por rabinos, banidos das sinagogas e atormentados nas ruas.
"Eles trouxeram vergonha ao povo judeu", disse o rabino Shimon Weiss, o líder da Eida Haredit, um agrupamento guarda-chuva de anti-sionistas, judeus ultra-ortodoxos residentes em Israel. "Se eles vierem à sinagoga, serão postos para fora. Eles nos enojam".
Em entrevistas por telefone, das cidades em que moram na Inglaterra, Estados Unidos e Israel, membros do grupo dizem que eles foram mal compreendidos, que nunca negaram o Holocausto e que foram tentar proteger os judeus do ataque iraniano caso a guerra irrompesse no Oriente Médio.
"Nós sabemos o que fizemos, estamos cientes do valor daquilo que fizemos, e achamos que no curso do tempo isso será esclarecido", disse o rabino Ahron Cohen, um membro do Neturei Karta em Manchester, Inglaterra.
Quando Cohen retornou do Irã, ele precisou de proteção policial. Sua casa recebeu uma tempestade de centenas de ovos, sua janela foi quebrada por um tijolo e uma bola de bilhar, e ele continua sendo alvo de pedras, ovos e insultos na rua, disse ele. Na semana passada. Dois pneus do seu Volvo foram cortados, observou, e sua sinagoga fechou as portas para ele.
O Neturei Karta (em aramaico "Guardiães da Cidade") foi fundado cerca de 70 anos atrás em Jerusalém por judeus que se opunham ás ações para estabelecer o Estado de Israel, acreditando que somente o Messias poderia fazê-lo. Estimativas do tamanho do grupo avaliam de algumas centenas e poucos milhares.
Em décadas recentes seus membros destacaram-se protestando em conferências internacionais e em comícios pró-Israel, capitalizando uma publicidade garantida de judeus religiosos de chapéus pretos e barbas denunciando Israel.
Um deles atuou como conselheiro de Yasser Arafat para assuntos judaicos, e uma delegação viajou a Paris em 2004 para rezar pela saúde do líder palestino quando estava à beira da morte num hospital. Meses mais tarde, um grupo participou de uma conferência no Líbano com militantes do Hamas e do Hezbolá. ( Neturei Karta, agentes pagos pelo inimigo )
Durante anos, as principais correntes judaicas, religiosas e outros, tendiam a considerar os Neturei Karta como excêntricos. Então veio a conferência do Holocausto, na qual cinco membros do grupo roçaram ombros com gente que nega o assassinato nazista de seis milhões de judeus, membros da Klu Klux Klan, neonazistas, revisionistas e etc.
Em fotos publicadas ao redor do mundo, eles foram mostrados cumprimentando e abraçando Ahmadinejad, que se referiu ao Holocausto como um "mito" e pediu para Israel fosse varrido do mapa.
Os Neturei Karta dizem que nunca negaram o Holocausto ou suas conseqüências. Eles acreditam que Ahmadinejad tem sido injustamente caluniado e que eles deveriam ser louvados por convencê-lo de que sua raiva deveria ser dirigida a Israel, e não ao povo judeu.
"Nós sentimos que temos que fazer o que temos que fazer para salvar vidas de judeus, proteger o povo judeu da, D-s nos livre, catástrofe. Assim, temos que ignorar os efeitos do lado infeliz que aconteceu aqui," disse Yisroel Dovid Weiss, um rabino do Neturei Karta de Nova York que fez parte da delegação.
As comunidades judaicas ao redor do mundo ficaram furiosas.
Um rabino-chefe israelense pediu pelo banimento dos Neturei Karta das sinagogas. Em Nova York, onde vários membros da delegação vivem, centenas protestaram contra eles, que são freqüentemente atormentados com trotes telefônicos.
Os Satmars, um grupo hassídico e anti-sionista visto por alguns como seus primos espirituais, lamentaram numa declaração que "o sangue não vingado de milhões de vítimas judias grita de dor e repulsa para esses parias imprudentes. 'Como puderam descer a um nível tão baixo?'".
A comunidade judaica de Viena expulsou Moishe Arye Friedman, que viajou a Teerã com a delegação, mas não pertence ao Neturei Karta. Sua esposa decidiu deixá-lo depois de vê-lo numa foto beijando a face de Ahmadinejad.
"Grande parte dos judeus ortodoxos em todo o mundo perderam parentes no Holocausto," disse Jonathan Rosenblum, um analista das comunidades religiosas baseado em Jerusalém: O ato do Neturei Karta "tocou realmente o ponto nevrálgico”.
O rabino Avi Shafran, diretor de Assuntos Públicos da instituição ultra-ortodoxa Agudath Israel da América, declarou que a viagem dos Neturei Karta a Teerã foi a última gota d’água.
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