terça-feira, 10 de maio de 2011

E o mundo permanece em silêncio III

Mas é o Mundo que paga…


Neste terceiro e último ensaio da série publicada originalmente no Ma’ariv — e traduzida aqui na Rua da Judiaria [ver O Mundo Permanece em Silêncio e O Mundo Permanece em Silêncio II (Os Refugiados)] — Ben-Dror Yemini examina o fluxo de ajuda financeira e humanitária canalizado para a Autoridade Palestiniana.
Com a acutilância que marcou os dois primeiros textos, Yemini recorre a números oficiais e relatórios internacionais para traçar um retrato da situação económica e do nível de vida dos palestinianos. Mais uma vez, tal como nos dois artigos anteriores, este texto é fundamental para colocar o conflito israelo-palestiniano em perspectiva — algo que manifestamente se encontra ausente da narrativa unilateral e polarizada que vai dominando os media.

um artigo de Ben Dror Yemeni

Segundo a opinião pública mundial, os palestinianos são o povo mais desgraçado do planeta. O mais oprimido da terra. Eles são uma nação que incorpora uma parte substantiva da imagem de vítima. Inúmeras publicações abordam esta miséria, esta pobreza, escrevem sobre o estatuto de refugiado que permanece inalterado há décadas. Mas, também aqui, a relação entre os factos e a propaganda é menor que nada.
No primeiro artigo desta série, O Mundo Permanece em Silêncio, abordámos o assassínio em massa que árabes, principalmente muçulmanos, cometem contra muçulmanos e árabes, comparando com os números relativamente baixos de árabes, em geral, e palestinianos, em particular, mortos no quadro da disputa com Israel. O segundo artigo da série, O Mundo Permanece em Silêncio II: Os Refugiados, analisou a manipulação do problema dos refugiados palestinianos: apesar de quase 40 milhões de pessoas terem sofrido com permutas populacionais realizadas com o propósito de criar estados com identidades nacionais, étnicas ou religiosas, apenas os palestinianos, de entre todas essas dezenas de milhões, permanecem como refugiados.
Este terceiro artigo irá examinar agora o mito da miséria palestiniana. Os palestinianos estão, de facto, em má situação. Ninguém disputará isto. A questão reside em perceber se isso é produto de danos causados pelos próprios e pelos quais os palestinianos são responsáveis, ou se é apenas fruto do sofrimento provocado por Israel e pelos Estados Unidos.
O mito, que é cultivado pelas “forças progressistas”, afirma que, naturalmente, os Estados Unidos são a raiz de todo o mal. Não só possuem uma “política desequilibrada”, como são o opressor das legítimas aspirações do povo palestiniano. E Israel, claro, agudiza a opressão geral. Será mesmo assim?

Ao mesmo tempo que os palestinianos adquiriram um lugar de honra na lista de desgraçados do mundo, uma bem oleada máquina de relações públicas transformou-os numa nação de vítimas. Os factos são diferentes em essência dos mitos e de uma miriade de publicações académicas e jornalísticas que cometem uma fraude de enormes proporções face à opinião pública mundial.
A miséria compensa. Transformou-se numa indústria. O mundo abre os seus bolsos. O “Grande Satã”, o país mais odiado pelos palestinianos, os Estados Unidos, que compete nesta lista apenas com Israel, o “Pequeno Satã”, é o país que mais tem ajudado os palestinianos desde a assinatura dos Acordos de Oslo, em 1993 — mais do que qualquer outro país do mundo. Não a Arábia Saudita, nem os estados do Golfo, separados ou em conjunto. Não os países europeus, que contribuem individualmente, nem mesmo a União Europeia.

Chuva de dólares
Estes são os factos: segundo um relatório do Banco Mundial, de 1994 a 1998 os Estados Unidos foram o país que mais dinheiro deu aos palestinianos. Os números não são diferentes nos anos seguintes, mas a década de 90, que acabou com a intifada, são particularmente importantes. É verdade que Israel recebe mais ajuda. A ajuda militar advém de razões estratégicas que não cabem nesta análise. A maior parte deste ajuda, em qualquer caso, auxilia a indústria americana, uma vez que Israel tem de gastar este dinheiro nos EUA. Em relação à ajuda económica prestada pelos Estados Unidos a Israel, esta tem-se reduzido de forma substancial nos últimos anos, tornando-se agora marginal, constituindo um valor infinitamente menor do que a ajuda concedida aos palestinianos.
Em termos de valores per capita, e a título de ajuda económica ao desenvolvimento, eles recebem bastante mais do que, por exemplo, o Egipto. Mas o mito afirma repetidamente que os palestinianos são as “vítimas” e por isso precisam de receber mais e mais dinheiro porque assim, talvez, possam ser convencidos a abandonar o terrorismo e a querer a paz.
Segundo o Banco Mundial, e nos anos mencionados acima, Washington contribuiu com aproximadamente 345 milhões de dólares para os palestinianos, comparativamente a 298 milhões da União Europeia. O Japão está também no topo da lista, com uma contribuição de 306 milhões de dólares no mesmo período.
A contribuição americana é, na verdade, muito maior: durante aqueles quatro anos os EUA foram também o maior financiador da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA na sua conhecida sigla em inglês), que auxilia os palestinianos. O orçamento anual da UNRWA durante este período era aproximadamente 300 milhões de dólares. Desse montante, entre 1994 e 1998, 600 milhões foram enviados para Gaza e para a Cisjordânia.
Se alargarmos a cronologia e contarmos entre 1994 e 2004, os Estados Unidos continuam em primeiro lugar, com 1,3 mil milhões de dólares de ajuda aos palestinianos. A seguir vem a União Europeia, com 1,11 mil milhões, e depois o Japão. Também aqui estes montantes não incluem as contribuições para a UNRWA e para a “Da’wa” — uma organização islâmica de caridade usada em larga medida para financiar o terrorismo. É preciso lembrar que o Hamas operava ainda um canal de angariação de fundos, parte dos quais chegaram a ser utilizados para financiar assistência social, educação, saúde e infra-estruturas públicas, com a outra parte a ser utilizada para financiar o braço militar e as actividades terroristas.
Biliões de dólares têm sido entregues aos palestinianos. Este dinheiro poderia ter levado a uma tremenda mudança na economia palestiniana. Este dinheiro, desculpem o chavão, poderia ter transformado Gaza numa nova Beirute, uma nova Pérola do Mediterrâneo (em vez disso o Hizbullah fez tudo para transformar Beirute numa Gaza). Mas os palestinianos escolheram outro caminho. O mundo fez chover dólares e os palestinianos responderam com críticas. Eles não são os mais oprimidos do mundo, mas sim os mais mimados. A maioria dos habitantes de África, que sofre muito mais, pode apenas sonhar com uma ajuda económica da magnitude da concedida aos palestinianos. Há opressão, mas os palestinianos não estão no topo da lista. Longe disso. Eles nunca sofreram de fome. As suas dificuldades económicas são maioritariamente criadas por si próprios.

O combate em vez da prosperidade
Antes dos Acordos de Oslo, a ajuda económica corria já em direcção aos palestinianos. O ano de 1992 assistiu a uma subida acentuada da economia palestiniana. O PIB per capita chegou aos 1.999 dólares e o Produto Nacional Bruto (PNB) per capita ascendeu aos 2.683 dólares. A disparidade deve-se a financiamentos provenientes de fontes externas: parte veio do orçamento da UNRWA, outra parte de remessas efectuadas por emigrantes palestinianos a residir no estrangeiro, outra ainda era oriunda do produto do trabalho de muitos palestinianos em Israel.
Teoricamente, e se não fosse pelo terrorismo, que forçou Israel a impor entraves à livre circulação, a economia palestiniana dos anos 90 ter-se-ia transformado numa das principais economias do Médio Oriente, depois de Israel. É nessa altura que conversações secretas são mantidas em Oslo, posto o que, depois de assinados os Acordos, a grande torrente de ajuda económica aos palestinianos começa a afluir. Mas esses foram também anos de grandes vagas de terrorismo. Os palestinianos preferiram o combate à prosperidade.
Durante esses anos, países como o Yémen, o Chad e a Nigéria, por exemplo detinham um PIB per capita na ordem dos mil dólares e não eram os países mais pobres do mundo. Nestes anos houve comunidades de milhões em África que se tornaram refugiados — no Congo, no Sudão e no Sahara. Mas a comunidade Internacional abandonou-os. Os negros africanos, é claro, não geravam terrorismo nem constituíam uma ameaça. A consciência moral do mundo em geral, e do Ocidente em particular, é activada de uma forma muito selectiva: pelos ecrãs de televisão, pela ameaça do terrorismo, pelo perigo de alta dos preços do petróleo. Assim, o sofrimento maior de milhões de negros em África fica classificado numa escala mais baixa do que o sofrimento menor dos palestinianos.
O sofrimento dos palestinianos é, aparentemente, a sua indústria de maior sucesso. Este é um sofrimento que não só se perpetua a si mesmo como serve de base a mais e maiores exigências de ajuda económica. Mas ajuda económica para quê? Não para construir infra-estruturas. Não para construir ou melhorar o sistema educativo. Não para reabilitar as centenas de milhares de pessoas que vivem em campos de refugiados. O dinheiro foi utilizado em três objectivos principais: para perpetuar a situação política e a miséria; para comprar armas e material para a prática do terrorismo; e para a corrupção, pagando enormes montantes que foram parar constantemente aos bolsos dos amigos e dos parasitas, tal como os milhões transferidos para as contas de Yasser Arafat em bancos espalhados pelo mundo, ou as “luvas” arrecadadas pelos responsáveis da Autoridade Palestiniana sempre que há um qualquer projecto de desenvolvimento nos territórios.

“Limpar Israel do mapa”
Israel não está inocente nem livre de erros em todo este processo, mas os erros de Israel empalidecem em comparação à responsabilidade palestiniana. Viver sob uma ocupação não é alegria nenhuma, e críticas à ocupação, em geral, e aos colonatos, em particular, são perfeitamente legítimas. Mais do que legítimas. Mas, no entanto, não estamos a lidar com teoria, mas com factos: largas somas de dinheiro dadas aos palestinianos pura e simplesmente desapareceram, foram como que pelo cano abaixo. E a oportunidade de ganhar a independência e a prosperidade foram rejeitadas em favor de um objectivo supremo: limpar Israel do mapa.
O mais importante ponto de viragem veio, é claro, com os Acordos de Oslo. O mundo inteiro ofereceu ajuda à Autoridade Palestiniana, estabelecida a seguir aos Acordos. A Autoridade Palestiniana, de facto, cresceu e floresceu. Largas somas de dinheiro foram canalizadas para as novas instituições palestinianas. Mas os palestinianos, eles próprios, não gozaram os frutos da paz. Antes pelo contrário. A sua economia entrou em declínio.
Várias entidades apresentam dados contraditórios em relação às flutuações do PIB ou do poder de compra dos palestinianos antes e depois dos Acordos de Oslo. Mas mesmo os números contraditórios apresentam linhas de consistência: por um lado, existiu um fluxo sem precedentes de fundos para a Autoridade Palestiniana mas, por outro lado, a par desse fluxo de capitais registou-se uma quebra no rendimento per capita. A explicação é simples: após os Acordos de Oslo houve várias vagas de atentados terroristas que levaram a uma série de encerramentos de fronteiras. O número de palestinianos a trabalhar em Israel tornou-se cada vez menor.
Mas a mudança chegou. Em 1997 houve uma viragem e a economia palestiniana iniciou uma retoma. Os palestinianos começaram a sentir os benefícios da paz. Segundo números oficiais palestinianos, entre 1994 e 2000 houve um aumento de 36% no PIB. E mesmo assim, apesar da melhoria acentuada, a retoma foi sol de pouca dura acabando com a eclosão da segunda intifada, em Setembro de 2000. Uma vez mais, a oportunidade de prosperidade foi destruída. Uma vez mais, os palestinianos optaram pelo caminho da violência.
Este é um período importante. A violência eclodiu precisamente após Israel ter estendido aos palestinianos a mais generosa oferta na história do conflito entre as duas nações. Os mitos do “sofrimento palestiniano” e dos “horrores da ocupação” são inconsistentes com a realidade.

Longe dos últimos lugares de sofrimento e miséria
Primeiro, a revolta começou depois de dois anos de decréscimo do terrorismo, de crescimento económico e de prosperidade. Em segundo lugar, foi nesta altura que os palestinianos tiveram um Estado Palestiniano ao seu alcance. Tudo começou com a cimeira de Camp David, na qual Ehud Barak, então primeiro-ministro de Israel, propôs o que nenhum outro líder israelita antes dele se atrevera. Continuou sob a alçada de Bill Clinton o que na essência era um Estado Palestiniano com as fronteiras de 1967, com a excepção de ajustamentos menores de diminuta percentagem incluindo partes de Jerusalém, e trocas de território como compensação aos palestinianos.
E como responderam os palestinianos? Esta é a forma como o príncipe Bandar bin Sultan descreve os eventos desse dia histórico, 2 de Janeiro de 2001: bin Sultan esteve sentado com Arafat no Hotel Ritz antes deste se reunir com Bill Clinton. Bin Sultan disse-lhe que esta era uma oportunidade histórica, que ele tinha o apoio da Arábia Saudita, do Egipto e da maior parte do mundo árabe e que se ele recusasse a proposta “seria uma tragédia, seria um verdadeiro crime.” Em nada ajudou. Arafat foi ter com Clinton e disse-lhe simplesmente: ‘Não.” Arafat não queria um Estado Palestiniano. Arafat não queria prosperidade. Arafat não queria o fim da ocupação. Arafat queria guerra.
Israel foi forçada a responder para se proteger de uma enorme vaga de terrorismo. Sim, Israel cometeu erros. Mas todos os seus erros são diminutos, temos de o repetir, quando comparados com a intransigência palestiniana contra o fim da ocupação e do conflito, e perante a sua recusa em estabelecer um Estado Palestiniano ao lado de Israel.
Vamos continuar com os factos. O fluxo de fundos para ajuda económica, para o desenvolvimento e para evitar a fome deve ser canalizado de acordo com o grau de necessidade da comunidade a que se destina. Eram os palestinianos os mais necessitados? Dados comparativos mostram que os palestinianos estão longe dos últimos lugares no que diz respeito à miséria global. Apesar do seu PIB não estar ao nível do Ocidente, mesmo entre os países árabes e muçulmanos os palestinianos não são os últimos da lista.
O Índice de Desenvolvimento Humano de 2003, elaborado pela ONU, coloca os “territórios palestinianos ocupados”, tal como é ali definida a Autoridade Palestiniana, em 102º lugar entre 180 países. Uma vez que 2003 representa um dos pontos baixos, no auge da intifada, e dado que o PIB durante os anos 90 era substancialmente mais elevado, podemos presumir que o ranking dos palestinianos no índice era igualmente mais elevado. De qualquer forma, mesmo durante a crise de 2003, os palestinianos estavam à frente da Argélia (103º lugar), da Síria (106º lugar), do Yémen (156º lugar) e certamente da maior parte dos países africanos e de alguns países da América do Sul.
O ranking dos palestinianos em termos de desenvolvimento humano é mais elevado em relação a outros países árabes, mesmo quando o seu PIB é inferior ao desses países. Ainda assim, uma comparação entre PIB e dimensão da ajuda internacional, em relação a outros países e em relação à dimensão da sua população, dá um resultado espantoso: os palestinianos recebem a maior ajuda económica e humanitária do mundo. São os factos que contam a história.
Por exemplo, de 1994 a 1998, os palestinianos nos territórios ocupados receberam mais de 2,6 mil milhões de dólares de países doadores mais 600 milhões de dólares através da UNRWA, mas isto não é tudo. Um enorme número de ONG’s palestinianas recebem fundos de várias fontes, principalmente da Europa.
Adicionalmente, “organizações de caridade” enviam dinheiro, maioritariamente a entidades religiosas e/ou envolvidas na prática de actividades terroristas. O dinheiro é oriundo de muçulmanos residentes nos Estados Unidos e na Europa, da Arábia Saudita e de Estados do Golfo Pérsico. O valor cumulativo ascende anualmente a largas centenas de milhões de dólares.
Dados comparativos dão-nos uma imagem ainda mais surpreendente. Ao passo que um país com uma pobreza endémica como o Yémen recebe ajuda internacional avaliada em 30 dólares per capita, cada pessoa na Autoridade Palestiniana recebe 470 dólares. Mesmo em termos absolutos, isto representa uma enorme distorção. O Egipto recebeu 1,286 mil milhões de dólares, enquanto a Autoridade Palestiniana recebeu 1,616 mil milhões de dólares em ajuda externa. Parece ser supérfluo acrescentar que o Egipto tem 73 milhões de habitantes e que a população palestiniana é de apenas 3 milhões de pessoas.
Mas a audácia palestiniana não acaba aqui — uma audácia na qual o apoio americano, que económico quer político, é retribuído com ingratidão. Em 2003, no seguimento de uma vaga de atentados terroristas, Washington decidiu tornar a sua ajuda a ONG’s condicional da assinatura de um acordo segundo o qual os signatários se comprometiam a não apoiar o terrorismo. Convém esclarecer que esta decisão estendia-se a todo o mundo e não foi direccionada apenas aos palestinianos. No entanto, os palestinianos não gostaram. Queriam o dinheiro e o apoio ao terrorismo. Seguiu-se um debate interno, com a esperada retórica nacionalista. Os elementos radicais prevaleceram e no início de 2004 o Conselho Legislativo palestiniano aprovou uma resolução rejeitando as condições dos americanos.
Os palestinianos queriam tanto a ajuda quanto a opção de canalizar essa ajuda para entidades terroristas o que apoiavam o terrorismo. Porquê? Porque a “honra nacional” palestiniana, que inclui o apoio ao terrorismo, era mais importante do que a possibilidade de obter ajuda americana.


Armas são mais importantes que bem-estar, educação e prosperidade
Três investigadores académicos — Michael Keating, Anne Le More e Robert Lowe — editaram um estudo exaustivo à ajuda internacional intitulado “The Case of Palestine: Aid, Diplomacy and Facts on the Ground”, publicado em 2005. Os três nunca poderão ser acusados de ser simpatizantes de Israel. Mesmo assim, dois factos inquestionáveis emergem do livro: primeiro, que os palestinianos receberam o maior montante de ajuda externa desde a Segunda Guerra Mundial, e não apenas em termos absolutos, mas também tendo em conta ajustamentos aos vários índices de inflação e afins. E, de facto, relativamente ao número de habitantes, os palestinianos receberam mais ajuda externa do que a destinada ao Plano Marshall, concebido para recuperar a Europa após a Segunda Guerra Mundial. Nas palavras do livro, “(…) a ajuda pode ter contribuído para agravar o problema em vez de ser uma solução e uma pesada ajuda internacional não evitou o declínio da sociedade palestiniana.”
Tal como é habitual em livros do género, este está também repleto de acusações contra Israel, tal como a alegação de que a ajuda internacional contribuiu para perpetuar a ocupação (como é que isto se coaduna com a intransigência palestiniana em recusar tanto o 4estabelecimento de um Estado Palestiniano como da Iniciativa Clinton?), mas se pegarmos exclusivamente nos dados factuais — nos números do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional ou das instituições independentes — eles contam-nos a verdadeira história.
Ao longo dos territórios existem actualmente centenas de milhares de armas privadas que não fazem parte do arsenal das forças de segurança palestinianas. O preço de uma espingarda, dependendo do seu estado e da sua idade, pode custar entre 100 dólares e 10 mil dólares. Quando falamos da desgraça palestiniana vale a pena também recordar as prioridades palestinianas, tanto nacionais como privadas: as armas são mais importantes que o bem-estar, do que a educação, do que a prosperidade. O problema não é o dinheiro. O problema é a preferência pelas armas.
Se os palestinianos estivessem a lutar contra a ocupação, há muito que teriam um Estado independente, com fronteiras muito próximas das linhas de 1967. Mas os palestinianos fizeram um esforço imenso para convencer a opinião pública em Israel que o seu objectivo não é o fim da ocupação. O objectivo palestiniano era e, para muitos, continua a ser o fim de Israel. A fantasia ultrapassou a realidade.
Tal como o sonho acalentado do “direito de retorno”, que apenas aumentou o grau de miséria daqueles que foram forçados a permanecer refugiados [ver O Mundo Permanece Sm silêncio II: Os Refugiados]], também o sonho da destruição de Israel apenas tem contribuído para aumentar a desgraça dos palestinianos. A culpa não é unicamente sua. A culpa pertence igualmente aos seus agentes de propaganda no Ocidente. A culpa pertence aos agentes de propaganda que os tratam como pobres desgraçados e não como pessoas que são igualmente responsáveis pelos seus próprios actos. Não há outra explicação para o facto de que, desde os Acordos de Oslo, os palestinianos nos territórios ocupados tenham recebido mais de 5,5 bilhões de dólares [15 vezes o PIB de Timor-Leste e o dobro do PIB de Cabo Verde], sem contar com financiamentos de outras fontes que não constam dos relatórios oficiais. Este valor dá cerca de 1.300,00 dólares por pessoa. Em termos comparativos, sob o Plano Marshall cada europeu recebeu apenas 273 dólares (valor já ajustado à inflação). Os palestinianos merecem receber esta ajuda. No entanto, agora vemos o que aconteceu a este imenso rio de dinheiro. Foi gasto em corrupção e o movimento Fatah foi corrido do governo. Foi gasto em armas com o encorajamento do governo central, resultando num descalabro e na anarquia da sociedade palestiniana. Acima de tudo, a culpa pertence aos que ajudaram o fluxo destas imensas quantidades de dinheiro sem fazer com que os palestinianos fossem submetidos a um processo erradicação dos sonhos fúteis de destruição de Israel. O resultado disso é a continuada destruição da sociedade palestiniana.

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