"Daqui a um mês não haverá um único cristão em Mosul." O vaticínio de Nelson P. Khoshaba, engenheiro iraquiano que fugiu de Mosul para Erbil há um mês, pode parecer exagerado, mas é partilhado por milhares de cristãos que, como Khoshaba, estão a fugir dessa cidade e de Bagdade para a zona curda do Iraque e para a Turquia, por temerem ser alvos da onda de ataques a cristãos, que a 31 de Outubro aumentou de intensidade.
O bombardeamento de uma igreja em Bagdade, que matou 51 fiéis e dois padres, inaugurou a perseguição aos cristãos do país, numa quase caçada que está a ser comparada com a que foi feita à comunidade judaica no país em 1948. "É exactamente o que aconteceu aos judeus", diz Nassir Sharhoom, que fugiu com a família da capital para Erbil, capital do Curdistão iraquiano. "Querem matar-nos a todos."
Vários líderes iraquianos, como o primeiro-ministro, Nouri al-Maliki, já vieram pedir o fim da perseguição a não islâmicos. "O cristão é um iraquiano. Ele é filho do Iraque e das profundezas desta civilização de que nos orgulhamos", disse em visita às vítimas que sobreviveram ao ataque de 31 de Outubro. Contudo, num país em que apenas 3% dos habitantes (entre 800 mil e 1,4 milhões de pessoas) são cristãos e que, desde a invasão do Iraque de 2003, já perdeu mais de metade da sua comunidade cristã, as palavras de al-Maliki são recebidas com cepticismo pelos fugitivos. Muitos acusam mesmo as forças de segurança de, mais do que de não serem capazes de os proteger, não quererem fazê-lo. "A sua fé em Deus é forte. É a sua fé no governo que está a enfraquecer", garante Gabriele Tooma, directora do Mosteiro da Virgem Maria, em Qosh, que já recebeu 25 famílias de cristãos em fuga. Diana Gorgiz, de 35 anos, é uma das iraquianas alojadas no mosteiro. Três gerações da sua família já fugiram para o Norte e, na noite em que temeram pela sua vida, o exército iraquiano apareceu apenas para lhes dizer que já não estavam em segurança ali. "Quando o exército vem e nos diz ''Não podemos proteger-vos'', em que mais podemos acreditar?", contou ao "The New York Times", dizendo que as forças de segurança são cúmplices da perseguição.
Êxodo O alto comissariado para os refugiados da ONU continua sem uma estimativa precisa do número de iraquianos que já fugiram para o Norte do país, avançando que pelo menos 1100 famílias (com dezenas de membros cada uma) abandonaram as suas casas em Bagdade e Mosul transportando apenas o essencial. Só em Novembro a Turquia acolheu 243 cristãos em fuga. Algumas das famílias com mais posses procura um recomeço no Curdistão, mas a maioria procura abrigo em casas de familiares e santuários religiosos - sem expectativas de futuro.
A Comissão Internacional para a Liberdade Religiosa, criada pelos Estados Unidos, refere que a maior parte dos ataques às minorias iraquianas nem sequer é investigada, criando "um clima de impunidade". O Estado Islâmico do Iraque, um ramo da Al-Qaeda, é um dos apontados como responsável pela perseguição para "limpar o Iraque de infiéis".
Mais:
http://noticias.r7.com/internacional/noticias/perseguicao-faz-cristaos-viverem-sob-o-medo-no-iraque-20101115.html
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